quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Ética e Trabalho

O problema ético do trabalho está em torno da questão dos fins do trabalho – a ética é do reino dos fins –, e dispõe sobre a ordenação do trabalho humano a fins considerados bons, segundo uma regra quando possível não condicionada pela História ou pela conjuntura. Daí a importância, sempre, de uma moral de fundo espiritualizado, aquela que faz anteceder ao ato bom o gênio do Bem, que é Deus, supremo árbitro da moralidade de nossas ações. Afinal sem Deus, já notara o padre José Maria, no século XIX, o bem não tem sentido e o mal carece de sanção.
Contudo, parece-nos mais urgente o exame de uma outra ordem de questões. As que tratam da moralidade das relações de trabalho, eis que nessas reside grande parte de nossas mazelas sociais, de nossa fraqueza espiritual, de nossa miséria.
Naturalmente que discutir a ética das relações de trabalho é levantar toda a problemática do trabalho como expediente de sobrevivência no contexto do capitalismo e, no caso de sua inexistência e impossibilidade, toda a problemática da exclusão e da morte, que, no Brasil, aflige a quase 60 milhões de seres humanos. Seria também ocasião de abordar-se o caso moral das estratégias de sobrevivência do povo – o que inclui, necessariamente, considerações sobre as soluções individualizadas ou isoladas, o crime, por exemplo, e as soluções gerais, sociais ou insurrecionais, para considerá-las aceitáveis, de um ângulo que contemple o direito à vida, verdadeira defesa legítima do cidadão e de seus dependentes.
Contudo, dado o espaço e a ocasião, vou ater-me às relações laborais, tão agredidas ultimamente na sua estabilidade jurídica – conquista de século e da Constituição de 88 – submetida a formas de tratamento que coisificam o trabalho e o lançam em nível de mais uma mercadoria.
Nem ao Capitalismo isso convém. O trabalho faz parte dos grandes ideais humanos – e o Capitalismo, como sistema, gloria-se de ter dado forma a esses anseios profundíssimos – e tem enorme carga emancipatória, ao contrário do que se procura hoje, reduzindo-o, regulando-o, desvinculando-o do sucesso do sistema para transformá-lo em coisa menor. O capitalismo do período neoliberal tem esse vezo malsão de descompreender o valor do esforço, da criatividade e do trabalho, para só premiar os valores precários da ciranda financeira, como a esperteza, o tráfico ilícito das ligações sociais, etc.
Essa tendência, porém, é suicida para o sistema e para as sociedades e tenta sufocar o potencial emancipatório do trabalho, o que não é possível e resultará em fantástica pressão social pela devolução ao trabalho da formidável força prometéica que contém e que é de sua natureza.
Os excluídos da relação de trabalho, os que militam em nível das estratégias de sobrevivência, estarão compondo a moldura dessa rebeldia e constituirão a força que condicionará as transformações políticas adequadas às futuras mudanças, indispensáveis ao ajuste de trabalho humano nos quadros referenciais do pós-moderno.
Essa transformação não guardará relação direta com experiências historicizadas no passado, mas certamente terá por pano de fundo a recuperação da solidariedade e da fraternidade de que é exemplo, e dos melhores, a partilha ensinada por Jesus de Nazaré.
Rio de Janeiro, 02 de agosto de 2001
CARLOS DIAS é membro da Renovação Carismática Católica,Deputado Estadual e Secretário Municipal do Trabalho do Rio de Janeiro
Postado por Fábio Amorim

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